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Empreendedores se reinventam e têm aumento nas vendas durante a pandemia

Os impactos e desafios impostos pela pandemia do coronavírus mudaram as relações pessoais, profissionais e o modo de vida da sociedade em todo o mundo. A forma de encarar os negócios não é e não será a mesma, mas ao mesmo tempo em que esse período difícil que a humanidade enfrenta traz preocupações, perdas irreparáveis e prejuízos para vários setores econômicos, as novas demandas impulsionam a criatividade e a retomada de projetos esquecidos ali, na gaveta do armário e nas memórias, na criação de novos empreendimentos.

Formada em gastronomia, Julia Michaelsen Saraiva da Silva sempre quis apostar em uma proposta diferente de negócios, em uma cozinha livre, sem rótulos. Ela administra a pousada da família, a Mar de Dentro, há oito anos em Florianópolis. Um negócio pequeno, à beira-mar, em Santo Antônio de Lisboa. Com a disseminação da Covid-19 e o fechamento de alguns segmentos na capital catarinense em março deste ano, ela viu o faturamento da empresa cair, repentinamente, para zero.

“Nossa previsão era de um abril excelente, com muito movimento, e com o decreto do governador do Estado (Carlos Moisés, que decretou o fechamento do setor de turismo e outros em Santa Catarina) tivemos que cancelar tudo. Ficamos sem operar por 30 dias. Mesmo depois que fomos liberados a abrir as portas, o movimento parou. Tivemos que dar férias para os funcionários, adotar redução de jornada de trabalho”, conta ela.

Neste período, Julia diz que ela e família pararam de pedir comida por delivery. “Cozinhamos muito aqui, procuramos fazer um almoço mais elaborado, a janta… Ao preparar essas refeições, surgiu a ideia de criar a Aroeira Cozinha Itinerante. A ideia é não ficar presa a rótulos, fazer um pouco de tudo e proporcionar uma experiência diferente aos consumidores. Eu já tinha essa ideia há algum tempo, mas, com a correria do dia a dia, acabei deixando isso de lado, não sabia como tirar a proposta do papel. Na pandemia, tudo fez sentido e o negócio nasceu”, explica a nova empresária.

Ela passou, então, a preparar tábuas de frios, cestas de piquenique e congelados para que as pessoas, que não podem mais se reunir para comemorar, possam promover momentos de alegria e celebração em casa, durante o isolamento. “Aroeira é uma árvore nativa da Mata Atlântica, que temos em abundância aqui em Florianópolis. É uma especiaria muito usada na culinária local, bem próxima do mar, com a qual eu me identifico, então faz parte dessa nova fase da minha vida”, esclarece. O rápido retorno que teve com o negócio a inspirou também a, futuramente, quando a pandemia passar, investir em eventos de gastronomia em sua pousada.

Oportunidade em casa

A crise também se tornou oportunidade para Cristina Oliveira, de 40 anos, designer apaixonada pela gastronomia. Ela sempre cozinhou para si mesma, a família, os amigos, e recebia muitos elogios pelas refeições e lanches que preparava.

Há dois meses, saiu da empresa onde trabalhava e resolveu, literalmente, colocar a mão na massa. Começou a preparar panquecas, nhoque, risotos e outros pratos que vende em marmitas pelas redes sociais e abriu a empresa Tina Congelados. “Tudo aconteceu muito rápido, eu resolvi começar a produzir para ver como seria e o retorno tem sido excelente. Comecei atendendo pedidos de amigos e conhecidos e, agora, já recebo outras encomendas também”, explica.

Ela participou também de um curso on-line do Eduk para entender melhor o empreendedorismo e já planeja a expansão do negócio. “Agora é batalhar para consolidar o produto, quero deixar o custo acessível, mas também com margem de lucro para prosperar o empreendimento”, avalia.

Boom no e-commerce

Mas não é só o segmento de alimentação que teve bom desempenho nos últimos meses. De acordo com o site Compre&Confie, o e-commerce brasileiro faturou R$ 9,4 bilhões em abril, o que significa uma alta de 81% em relação ao mesmo período do ano passado.

Na comparação com o ano anterior (segunda quinzena de março até o fim de abril), houve crescimento de 48,3% nas vendas on-line em todo o país. Ante o período pré-Covid-19 (início de fevereiro à primeira quinzena de março), o aumento foi de 14,4%. No consolidado de 2019, as vendas on-line ultrapassaram R$ 60 bilhões em faturamento e atingiram 148 milhões de pedidos. E de 1º de janeiro até 30 de abril de 2020, o desempenho chega a 32% do resultado de todo o ano anterior.

Os dados são da 41ª edição do Webshoppers, o mais amplo relatório sobre e-commerce do país elaborado semestralmente pela EbitNielsen – em parceria com a Elo, divulgado em maio deste ano.

Desafios vencidos no ramo de vestuário

Marcelle dos Santos Soares, 26 anos, empresária do ramo de vestuário, conta que não estava muito familiarizada com as vendas on-line, mas, com o início da pandemia, inovou para contornar a crise, apostou no e-commerce e abriu serviço de delivery para Florianópolis e região, ainda quando sua loja, A Bonita Modas, estava fechada devido ao decreto do governo do Estado. Hoje, ela já registra bons resultados como consequência das mudanças.

Segundo a empresária, as vendas por e-commerce, com entregas via delivery, aumentaram 50% desde março deste ano. “A loja completou oito anos no mês passado, e, com toda a certeza, 2020 tem sido o ano mais desafiador desde a sua abertura. Por sermos loja de bairro não estávamos muito habituados a realizar vendas on-line com frequência, mas quando nos deparamos com essa situação de isolamento, vimos o quanto era necessário dispor de outras ferramentas para atender nossos clientes e alcançarmos outros em potencial. Agora conseguimos reestabelecer as vendas de maneira satisfatória! Estamos nos reiventando e entendemos a importância e a necessidade de estarmos conectados com as clientes, por meio redes e mídias sociais. Também estamos em processo inicial da construção de uma marca própria”, explica.

Resultados surpreenderam lojistas

Mesmo empresas que trabalham exclusivamente na área sentiram a diferença e o incremento na demanda nos últimos meses. A Principessa, marca blumenauense especializada em vestuário feminino, é outro exemplo. A empresa iniciou o projeto de e-commerce em 2014, se tornou 100% digital em 2016 e hoje registra crescimento médio mensal de 33% em relação ao mesmo período em 2019.

“É surpreendente, pois no início desta pandemia não sabíamos o que esperar, mas o comportamento do consumidor mudou, ganhamos mais de 2.000 novos clientes mensalmente, o que representa 100% de novos clientes no período, se compararmos ao ano passado. Temos tido um ótimo feedback dos produtos e das vendas. Estamos otimistas e nossa meta é crescer 50% em 2020, em relação ao último ano”, afirma Rafael Inácio, analista de e-commerce da empresa.

Tendência de aproximação com o consumidor

Para a economista Laura Pacheco, o boom do e-commerce era previsto, mas não nessa velocidade. “Esperava-se que fosse demorar mais tempo para alguns serviços, como, por exemplo, o plano de assinatura de supermercado. Acredita-se que haverá um momento em que as pessoas não irão sempre às lojas físicas para comprar alimentos. Isso pauta muito o conceito de indústria 4.0, em que a produção sempre atrelada à demanda, que evita o estoque, um conceito de internet das coisas, de estar tudo interligado e fazer com que se otimize a produção. Essa inteligência entre demanda e oferta”, analisa.

Esse conceito, de intensificar a aproximação com o consumidor, também é uma tendência para o mercado, em geral, segundo Laura. “A pandemia acelerou processos, muitas previsões foram antecipadas, como esse aumento no uso da tecnologia, pois até quem não estava acostumado a usar a internet precisou se adaptar não apenas para comprar alimentos, roupas e outros produtos, mas para usar serviços bancários. Esse conceito, de buscar atender diretamente a demanda do cliente, das pessoas, é algo que já se pensava, estudava há alguns anos, e foi agilizado agora”, esclarece a especialista.

Expansão em plena pandemia

Especializada no modelo de negócios baseado em take out e delivery de bolos a empresa A Boleira, da Capital, também viu o movimento e o número de novos clientes aumentar nos últimos meses. Na comparação com janeiro, o empreendimento registrou crescimento de 30% no faturamento até o momento, aponta Henrique Coelho, sócio-fundador do empreendimento.

Neste mês, a rede vai inaugurar mais duas franquias. “A unidade da Carvoeira, por exemplo, atingiu em dois meses o faturamento que levamos seis meses pra atingir em Coqueiros. Eu já havia empreendido no meio digital, gostava deste ramo, e queria empreender no mundo físico. Queria desenvolver um projeto relacionado a franquias e buscar um produto sem sazonalidade, que tenha saída durante todas as estações do ano, e que fosse um produto de qualidade e acessível para todas as classes sociais”, explica o empresário. A empresa começou em março de 2019, já projetada para ser uma rede de franquias.

Outra ação realizada pela empresa, durante a pandemia, foi incluir tanto nos aplicativos de entrega, quanto pra quem compra nas lojas físicas, a opção de comprar uma doação de bolo. “Assim conseguimos entregar mais de 300 bolos para profissionais que estão na linha de frente de combate ao coronavírus, sejam enfermeiros, policiais, coletores de lixo, todos os profissionais”, explica Henrique Coelho.

Bom desempenho na região

Na região da Grande Florianópolis, para a empresa Invictus, de Palhoça, marca de vestuário e equipamentos do segmento tático, esse desafio foi a oportunidade de reforçar a rede de parceiros e a presença nas vendas on-line. Com a revisão de algumas medidas, a companhia conseguiu resultados expressivos, como o recorde de vendas no e-commerce e crescimento de 24% em maio frente ao mesmo período de 2019.

O domínio da estrutura de custos e o diagnóstico preciso do negócio também foram fundamentais os bons resultados, explica ele. “Nesse momento, ter todos os números do negócio na palma da mão foi muito importante para a estratégia. Conseguimos rever custos, adaptar a equipe para a demanda e, inclusive, projetar uma retomada de crescimento”, explica Guilherme Granzinolli, diretor de operações e fundador da empresa.

Outra estratégia para atravessar o momento, segundo ele, foi se aproximar dos canais de vendas, dando suporte a ações e orientação sobre negócios, minimizando impactos na ponta. “Reforçamos muito o suporte e a orientação aos lojistas parceiros sobre como atuar nos meios digitais”, conta o diretor. Essa atitude permitiu à empresa um desempenho acima da média nas vendas durante o período da pandemia.

 

Fonte: https://ndmais.com.br/economia-sc/empreendedores-se-reiventam-e-tem-aumento-nas-vendas-durante-a-pandemia/

 

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